Irmão

Ontem, através de uma cena de cinema despretensiosa (é engraçado como as cenas despretensiosas me despertam coisas), eu lembrei de como somos cúmplices e de como seu afeto é uma das poucas referências de família que me promovem.

Você sempre foi muito mais despachado, ousado, obstinado e animado do que eu. De quebra, o coração também ficou mais largo e aí se torna difícil enumerar todas as suas qualidades.

Com o tempo, a história e o coração amadurecidos, assumimos a missão congênita de cuidar um do outro. Apesar de toda a distância, é pra você que eu ligo pra pedir aval, pra dizer que estou preocupada ou perdida, pra revelar a verdade por trás do “Tudo bem sim, graças a Deus!”. Apesar de a decisão final ser sempre minha (percebeu o “atrevimento” da pessoa aqui?), e disso não abro mão, suas ponderações importam, sempre.

As “artes” feitas juntos, as brincadeiras em parceria, a proteção pra ninguém ser injusto com algum de nós, a torcida pra não repetir o ano, as boas risadas, a presença na dor, o esforço e o empenho reconhecidos na prática, a admiração sem fim... tudo isso enfeita e fortalece nossa relação.

Eu nunca vou esquecer daquele dia no meu quarto em Uberlândia. Você tava procurando emprego, lembra? E foi corajoso pra tentar uma vaga que não tinha muito a ver com seu perfil empreendedor, que logo depois você descobriu... Fazia pouquinho tempo que a tia Lúcia tinha nos deixado e a gente tava tentando se ajeitar com tamanho desconforto que a falta dela gerava (e ainda gera, eu sei). Eu na cama, você no colchão no chão. Não sabíamos o que falar, tava doendo demais nos dois e não havia consolo que resolvesse, mas as lágrimas, as mãos dadas e o silêncio permaneceram até o sono chegar, trazendo a paz que é própria da nossa união.

Apesar da idade menor e da sua objetividade masculina, você me ampara. Você me ajuda a encontrar um certo “equilíbrio” vital, porque você me ama e eu acredito. E esse texto é só pra dizer que você é um das principais preciosidades que compõem o meu tesouro nesta vida, Guto!

3 comentários:

  1. Ai amiga, fazer a gente chorar assim não vale..rs..belo texto, não pelas palavras, mas pela verdade nelas contidas.
    Beijos

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  2. Fala sério... nem te conheço e você me faz ficar com nó na garganta assim... Posso mandar pro meu irmão e dizer que fui eu? Hehe. Lindo!

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