Gente que sabe nutrir




Aprendi desde cedo que comida é sinônimo de amor e, há duas semanas, às vésperas de uma consulta com a nutricionista, sonhei que chorava compulsivamente, implorando que ela não limitasse demais minha alimentação porque eu sofreria de inanição afetiva.
 
Pra mim, comida não precisa de requinte. É o preparo que faz a diferença. Aliás, a intenção de quem prepara. E, se de boa intenção o inferno está cheio, isso explica a asia provocada por alimentos mal preparados ou preparados com má vontade.

Nem a relação duvidosa de compensação anula o conforto interior de um café recém coado, de um arroz bem refogado, de um feijão cozido no dia ou de um frango caipira preparado com reta intenção. E desse último, o Sr. Ari era chef! Ele tinha o cuidado de levar sempre arrumadinho e fazer no almoço de domingo. Enquanto ficava pronto e aquele tempero perfumava a casa, ele tomava uma cervejinha e conversava mansinho. Carinhoso em tudo, gostava de servir a comida bem quente e quente era também o acolhimento que, sem saber ou, propositadamente, ele providenciava a cada frango caipira.

Ele se foi no último domingo e eu nem posso imaginar a dor da família, mas presumo ser imensurável. Consola-me ter participado de seus banquetes e saber que muito do que ficará é reflexo de sua disposição em nutrir de amor quem passou por ele.

*Texto escrito em 29/04/2014

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